O Brasil, a desigualdade e o atraso

Uma das formas de medir o grau de avanço de um país – não a única, é claro – e avaliar a diferença entre os salários mais altos e baixos no serviço público. Quanto maior a diferença entre o que ganhar menos e mais, pior; quanto menor, melhor. O Brasil, neste item, está no primeiro grupo, em que a diferença é colossal; e há possibilidade de ficar ainda pior.

Hoje o teto no serviço público é de R$ 26,7 mil, salário que recebem a presidente, ministros, juízes, senadores, deputados, enquanto que o valor mínimo deve ser o do salário mínimo (R$ 540).  Ou seja, a turma do andar de cima ganha 49 salários mínimos – dois anos de um salário do sujeito que menos recebe.

O andar de cima pode até gritar que tem um desconto maior do Imposto de Renda, mas é preciso lembrar que presidente, ministros, juízes, senadores e deputados têm verbas de ajuda de custo, ganham passagens e se beneficiam de outras regalias – se o deputado não aparece um dia não tem o salário descontado, enquanto o cara do cafezinho não tem a mesma sorte.

Tudo pode piorar, já que os juízes querem um aumento, de R$ 26,7 mil para R$ 32 mil, como indica esse texto reproduzido no Blog do Nassif (leia aqui). O aumento depende do Congresso, mas sabe-se que os juízes do andar de cima têm poder de persuassão maior do que os barnabés.

As asneiras do governador cearense

Algumas frases do governador cearense, Cid Gomes:

“Quem entra em atividade pública deve entrar por amor, não por dinheiro.”

“Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado”.

“Isso é uma opinião minha que governador, prefeito, presidente, deputado, senador, vereador, médico, professor e policial devem entrar, ter como motivação para entrar na vida pública, amor e espírito público.  Quem está atrás de riqueza, de dinheiro, deve procurar outro setor e não a vida pública.”

Parabéns pelas asneiras, caro governador. Pelas frases, essa gente pobre que não tem dinheiro para pagar uma escola particular deve se sujeitar a ter um ensino de péssima qualidade, com professores ganhando uma miséria para encarar turmas superlotadas. Portanto, essa gente pobre merece ter uma educação de segunda categoria para permanecer um cidadão de segunda categoria.

Claro que o nobre governador acha que isso não vale para ele. Recebe, conforme esse blog, R$ 13.184,80 de salário, além de aposentadoria de ex-governador no valor de R$ 24. 117,62 . Total: R$ 37 mil.