O início se deu na Tunísia, país muito mais conhecido por suas praias (em especial, na ótica dos europeus) do que por uma ditadura de três décadas não noticiada pela mídia. Depois que os protestos levaram o ditador a escapar para a Arábia Saudita, as manifestações se ampliaram no Norte da África e no Oriente Médio.
Até agora, além do ditador tunisiano, os protestos derrubaram Hosni Mubarak, no Egito. Na Líbia, Muammar Kadhafi está com os dias contados e dificilmente vai estender sua ditadura que já perdura quatro décadas. No Bahrein, Iemen, Argélia e Irá, os governos tentam interromper a onda de protestos com repressão, com soldados, policiais e capangas.
Pelo visto, a melhor arma contra um governo é o protesto. Não é pegar em armas, mas ir para as ruas, gritar slogans e exigir mudanças. É fácil para um governo combater inimigos armados; é difícil lutar contra manifestações populares. Os governos tiranos, com suas modernas armas compradas do Ocidente, estão vendo que elas podem ser pouco utéis nesse momento; pior, disparos contra os manifestantes podem ampliar os protestos, como na Líbia e no Bahrein.
Mas o medo de protestos não se restringe ao Oriente Médio. Está presente nos países democráticos do Primeiro Mundo, onde os governos buscam coibir manifestações. Alguém se lembra dos protestos contra a globalização, que levaram milhares de pessoas a Seattle em 1999, durante encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC)? A polícia reprimiu com violência o protesto e, nas edições seguintes, os governos montaram operações de guerra para reduzir o impacto das manifestações.
Essa preocupação persiste até hoje. Na Inglaterra, o governo gasta cerca de 5 milhões de libras por ano (uns 15 milhões de reais) apenas para monitorar grupos de ecologistas, como mostra esse texto de George Monbiot. As medidas não param por aí. Durante reunião do G-8, cinco policiais alemães, a pedido da Inglaterra, se infiltraram entre os manifestantes, revela matéria do The Guardian.
Se os ditadores têm pavor dos protestos, governos democraticamente eleitos alimentam um medo semelhante. No caso dos primeiros, até não surpreende. Mas no caso de países que se julgam democráticos, justifica-se essa paranóia?