A ética no futebol – e no Brasil

Quando Felipe não pulou naquela hora do pênalti, em que a bola passou perto dele, me pareceu claro que o Corinthians facilitou as coisas para o Flamengo, no domingo passado.

Não foi a primeira vez – o passado do futebol está repleto de jogos suspeitos – nem será a última vez – a começar por domingo, quando o exemplo deve se repetir.

Onde parou a ética?

Lembro de uma das primeiras vezes que fui a Londres, nos anos 90. Naquela altura, jogadores do continente europeu e sul-americanos começavam a entrar no mercado inglês. Levaram junto a malandragem, o ato de simular faltas, cavar pênaltis, confundir a arbitragem. Um artigo abordava isso: a qualidade dos jogadores era bem-vinda, mas fariam bem ao futebol inglês aquelas encenações?

O futebol inglês mantém sua pureza – ou pelo menos parte dela -, mas o resto já foi para o espaço. Não cito nem um exemplo nosso, uso o episódio de um goleiro sueco que, pela fato da goleira ser móvel, reduziu o tamanho do gol. Há ainda o lance de Henry, no lance que levou a França à Copa do Mundo da África do Sul.

E aqui? Sobrou alguma ética? Dizem que é difícil encontrá-la na política, a atividade mais detestável segundo a maioria dos brasileiros. Mas é igualmente difícil encontrar ética no futebol, o esporte mais celebrado pelos brasileiros. A única diferença é que a gente pressume indignação na falta de ética na política; no futebol, consideramos normal.  Vale tudo: simular um pênalti que não houve, fazer gol com a mão, enganar o árbitro, aceitar dinheiro para vencer um rival, aceitar dinheiro para entregar um jogo, deixar o adversário vencer para prejudicar um terceiro, etc…

Diante das evidências, calamos.  A mídia, dissociada do dia-a-dia dos brasileiros, evita os temas; só é possível encontrar o assunto em blogs e fóruns, onde, muitas vezes, reina o anonimato e a baixaria. Assim, o que era para ser condenado, passa como se fosse normal. O antiético passou a ser aceito como fato consumado, portanto não vale colocá-lo na pauta de discussões.

Talvez isso indique a resposta a pergunta acima: onde parou a ética? Sumiu, talvez não em sua totalidade – há os idiotas de sempre que acreditam que agir de forma correta é virtude. Mas, fora os idiotas, somos um povo antiético. Porque não há como ser ético na vida e aceitar comportamentos antiéticos no futebol. Ou se é ético, ou não. Não há meio termo. Não possível ético apenas na segunda, quarta e sexta-feiras.

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